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exposição independente - artistas da PF

Curitiba, Brasil

CURADORIA

Renata Mocellin 

Texto, por Stella

​Como capturar uma lagosta

 

Um aquário, e todas elas lá. Deviam ser umas dez. As pessoas se agachavam e observavam cada uma delas até escolher a que preferiam.
Uns são extravagantes e escolhem as maiores, as mais corpulentas. Outros são comedidos. Eu, sinceramente, não sei se se paga por peso ou por unidade.
O garçom, com as mãos, pega a escolhida e a entrega ao cliente. "É essa mesma." E então a devolve, passando-a ao cozinheiro, que a joga em uma panela de água fervente.
Todos os envolvidos assistem à morte da lagosta, que, em seus últimos suspiros, emite o que parecia ser um grito abafado. A morte mais cruel do reino animal, como diz uma publicação que encontrei.
O barulho vem dos poros do exoesqueleto, que emitem som enquanto os órgãos da lagosta derretem e implodem. Serve-se com manteiga derretida.
Utilize um manzuá, você pode escolher os que são feitos de madeira ou de trama de metal. Coloque iscas de peixe morto — sardinha, bacalhau ou cavala. Arremesse ao mar. Deixe a armadilha no fundo. Aguarde por horas. Ou dias.
Escolha quem você gosta. Escolha aquilo que se gosta de quem você gosta. Ou nem gosta tanto, mas escolhe mesmo assim. Escolha o nome — como no filme — pela longevidade, a fertilidade e o gosto pelo mar. Escolha uma sereia. Se depare com uma lagosta. Escolha o que já foi escritório e virou depósito, e que já foi escolhido por quem comprou. Dentre todas as opções, são várias meditações para se ver livre de encosto. Engula.
Escolha a madeira. Pinte-a de laranja. Ou sobreponha: pinte uma de amarelo e a outra de vermelho. Escolha o mar.
Trama. Escolha as pontas, mas deixe outras soltas. Escolha o nome para uma obra que parece ter tido o nome escolhido para ela. Pinte a boca. Ou não. Volte à infância. Enforque-a. Escolha o tamanho do diâmetro. Pinte direto na parede. Crie o primeiro par de asas. Vista o que recobre por fora e emoldure a janela por dentro.
Dobre o metal. Dobre de novo. E mais uma vez. Enferruje. Coloque sal e deixe oxidar o inoxidável. Faça isso no crepúsculo.Crie a própria pele. Escolha mudar de lugar os objetos da mãe. Escolha na hora quem vai cobrir. Escolha quem sustenta.
O Burlesco.
Escolha quase todos os objetos que entram na sala e os imprima.
Escolha o dia.
Escolha, mas escolha rápido. Ou nem tanto assim.

SESC - P​aço da Liberdade

Curitiba, Brasil

CURADORIA

Alexia Christinny

Texto curatorial, por Alexia Christinny

Quantas conexões podem existir em um espaço? Durante quase dez meses, nos dedicamos a uma jornada de pesquisa com o propósito de desenvolver projetos destinados a preencher este espaço expositivo. Permanecendo receptivos às influências e interações em curso, permitimos que as criações se entrelaçassem organicamente. Tal abertura não se restringiu apenas às proposições em si, mas se estendeu às esferas pessoais, e os encontros semanais deram origem a vínculos que ecoam nos trabalhos presentes nesta sala.

Ao tentar impor uma narrativa linear, percebi que isso geraria mais perdas do que ganhos, pois tratam-se de projetos multifacetados, que se entrelaçam em uma teia complexa de significados. As conexões entre eles permeiam elementos materiais, paletas de cores e contextos políticos e sociais que ecoam uma realidade fragmentada de ideologias falidas. Limitar tais trabalhos a um único fluxo narrativo seria sufocar toda uma construção que permitiu trocas e interações ao longo do processo.

No entanto, em meio a essa teia de relações e significados, emerge uma questão comum, talvez geracional: onde pertencemos? Como pertencemos? Em nossa busca por respostas, criamos nossos próprios universos, espaços onde procuramos nos enraizar, encontrar nossa origem e nosso destino.

Muitos de nós estão em constante trânsito, movendo-nos entre cidades, lugares e espaços. Esse fluxo contínuo nos permite ser impactados pelas histórias uns dos outros, expandindo as possibilidades deste projeto. Assim, cada trabalho reflete um pouco de cada um de nós, um eco de experiências compartilhadas e vínculos que nos unem.

Ao nos abrirmos ao afeto, este processo criativo se converteu em uma experiência coletiva, culminando em uma exposição que não se fecha apenas a este grupo seleto, mas se abre generosamente ao público [com vazios instigando a serem preenchidos]. Convidamos você não apenas a observar, mas a se envolver com os trabalhos, a tornar-se parte deles, a buscar conexões e preenchimentos a partir de suas próprias vivências e referências. Talvez você descubra um diálogo silencioso entre duas pinturas distantes, em que formas e cores se entrelaçam em um jogo de contrastes e reflexos. Ou desvende uma narrativa oculta, que conecta cada peça a um todo maior. Provoco você a conhecer-nos, e a fazer parte deste espaço, assim como nós.

EMBAP, UNESPAR

Curitiba, Brasil

L E I A  A  P E S Q U I S A  D E  T C C  N A  Í N T E G R A  A Q U I 

CURADORIA

Turma de Curadoria de 2023, com coordenação de Isadora Mattiolli

Texto curatorial I, por Isadora Mattiolli e Milena Costa, Coordenadoras do Projeto de Extensão

inTRINCAda, exposição dos formandos em Artes Visuais da EMBAP, é um evento que torna pública a pesquisa em arte realizada na Universidade. Nesta edição, a partir da proposta de um projeto de extensão, a curadoria da mostra foi realizada pelos discentes da disciplina optativa Tópicos Especiais em Curadoria IV. A proposta tem como intenção o compartilhamento de saberes e o fortalecimento dos vínculos entre alunes-curadores e alunes-artistas, incentivando a aprendizagem das práticas de produção, recepção e circulação da arte. Durante o desenvolvimento da exposição os discentes foram divididos nos Grupos de Trabalho: Produção Cultural, Conceito Expográfico e Comunicação e Design, adequando a atuação no campo da arte aos interesses dos alunes. Cada alune-curador também realizou o acompanhamento crítico das pesquisas dos alunes-artistas. Esse processo resultou na escrita de textos críticos (curadores) e de textos de apresentação das pesquisas (artistas) que se integram à expografia, no formato de legendas expandidas. A exposição acontece na Sala Leonor Botteri, e também ocupa outros espaços do prédio, como a recém-inaugurada Sala de Exposições do L.Ex.Foto, no 2º andar. O título da mostra, escolhido coletivamente, procura evidenciar a complexidade das propostas investigadas ao longo dos quatro anos da graduação pelos discentes. As pesquisas em poéticas apontam para a obstinação das investigações formais e conectam-se com questões sociais contemporâneas. Neste exercício de relacionar saberes teóricos, a experiência vivida e a investigação em poéticas visuais, surge a exposição coletiva dos formandos da turma de 2023.

Texto curatorial II, por Bruno Wichinheski, Heloisa Helena, Janaine Karma, Letícia da Silva, Wendy Aparecida GT Conceito Expográfico

Intrincada, aquilo que se apresenta de maneira complexa, simultânea e entrelaçada. Desse modo, as obras aqui expostas não permeiam o campo da transparência ou de uma única camada de significação. Pelo contrário, se apresentam nesta mostra de maneira em que não se sabe onde suas temáticas se iniciam nem onde terminam, pois são posições dentro de um todo entrelaçado, onde cada obra interage e se relaciona uma com a outra como num tecido maleável. Nesse sentido, em Intrincada, os artistas nos apresentam uma série de questionamentos direcionados à figura do eu, mas também uma série de questionamentos direcionados à figura do Outro. E o que há no entremeio? O todo que nos atravessa diariamente — seja a cidade, sejam nossas identidades, ou nossas vontades em meio às relações interpessoais — não só nos atinge, como também nos posiciona. Assim, os artistas nos convidam para adentrar os mundos temáticos e os processos que os provocam, que os permeiam e que os fazem reagir. Logo, a maleabilidade do tecido é atravessada pela dureza dos encontros, pelos conflitos gerados pelas interações entre o Outro e o eu, transformando-se em algo intrincado. O corpo político, a dualidade intrínseca à experiência humana e a pluralidade da experiência urbana é o que une em Intrincada as diferentes camadas e perspectivas do fazer artístico hoje nos cursos de Artes Visuais da EMBAP. Com o uso de diferentes técnicas, materiais e visões, inTRINCAda é uma mostra em trinca que convida o artista-estudante, o curador-estudante e o público para refletir a contemporaneidade na arte de maneira coletiva e entrelaçada.

MAC Paraná

Curitiba, Brasil

CURADORIA

Eduardo Amato e Carolina Loch

CURADORIA

Isadora Mattiolli

Texto curatorial, por Isadora Mattiolli

Olho Mágico, Magic Eye ou Judas, em português, inglês e francês, respectivamente, são nomes simbólicos para o visor de porta, uma das muitas tecnologias de vigilância pensadas ao longo do século XX. A tradução que mais chama a atenção, sem dúvidas, é Judas - no francês, é traidor aquele que, através de uma pequena abertura na porta, pode ver sem ser visto. Por outro lado, se pensarmos pela perspectiva da experiência, o olho mágico, instalado numa superfície plana, proporciona o acesso a uma imagem de múltiplas dimensões, distorcida e ampliada - a própria traição do real. O mecanismo atua, nesta exposição homônima, como uma metáfora para a pintura - o principal assunto investigado pelos artistas: Adão, Luísa Covolan e Natasha Wall Dümes. A linguagem, desde os seus mitos de origem, nos oferece formas de interpretação do mundo, imagens traidoras, da imitação à expressão. Em Olho Mágico, a pintura é o princípio de pesquisas que resultam na elaboração das três séries apresentadas de cada um dos integrantes do Coletivo Trio.

O grupo se desenvolveu pelo convívio nos ateliês de pintura da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, onde são estudantes do Bacharelado em Artes Visuais. Em 2022, na admiração pelo trabalho um do outro, os artistas prolongaram as conversas de sala de aula para outros encontros, continuando a pensar sobre arte e imaginando formas de se situar no circuito artístico local. O propósito do Coletivo Trio foi se desenhando conforme o tempo. Ele surge pelo desejo de refletir juntos, de poder contar com o olhar e a palavra dos amigos, mas não exatamente de produzir de forma colaborativa. Isto é, cada um continuou a investigação de suas pesquisas nos próprios ateliês, conforme às suas questões temáticas e processuais, mas sempre contando com a solidariedade e afeto que construíram por esse formato de trabalho em parceria - que conta também com o diálogo com outros amigos, professores e profissionais do campo artístico.

Universitários dos últimos anos do curso de Artes Visuais, a experimentação faz parte do cotidiano de aprendizados dos artistas, que desenvolvem exercícios em múltiplas linguagens e a partir de diversos enunciados. Todavia, foi na pintura que melhor conseguiram estruturar um pensamento, e essa linguagem vem sendo refletida e praticada por cada um deles a partir de abordagens distintas, mas que possuem um ponto em comum: a narrativa. Além dos trabalhos se apresentarem no formato de séries, o que já nos indica uma possível sequencialidade, são também propostas pictóricas que desejam ter uma aparência - a intenção é que alguma coisa seja reconhecida, remetendo a um horizonte, figura ou lugar. As histórias são contadas de forma fragmentada, pertencendo a universos particulares: as paisagens imemoriais de Adão, os frutos em seu esplendor de Luísa e as cenas sensoriais e os personagens de Natasha.

Uma vez colocadas as questões, os artistas investigam suportes, materiais, pigmentos e processos para acomodar a encenação feita de cores e formas de suas pinturas, cada um deles sugerindo, à sua maneira, uma perspectiva para o olhar. Adão, em sua série de paisagens Fata Morgana, propõe um jogo para o espectador que, para conhecer, precisa se afastar e se aproximar de cada horizonte imaginado pelo artista. O efeito óptico evocado no título da série se refere a uma inversão térmica, que cria a ilusão de que navios, ilhas, icebergs, falésias e cidades inteiras estejam flutuando no céu acima do oceano. Ainda que essa visão extraordinária não passe de uma miragem, a impressão fica suspensa entre a percepção e o concreto, entre a fabulação e o real. As paisagens de Adão podem até partir de algumas fotografias encontradas pelo artista, mas se materializam a partir de sua invenção, do embate com a visualidade que vai se formando aos poucos, não feita de montanhas, nuvens, lagos, mas de ruídos e desgastes. De longe, um espaço mítico, entre o intocado e a destruição, sem tempo definido - o vestígio. De perto, texturas, manchas, a própria superfície da tela - o fundo.

A série Fruto, de Luísa, é derivada de um percurso investigativo da artista que começou com a manufatura caseira de têmpera goma, utilizando pigmentos naturais e comestíveis. O método de pintura foi utilizado para composições pictóricas que tinham o comensalismo como assunto, traduzindo a experiência de compartilhar uma refeição entre duas ou mais pessoas. O resultado foram imagens de mesa posta, com pinceladas marcadas e cores orgânicas: ocres, tons de vermelho e cinza escuros. Buscando uma paleta mais vistosa e vibrante, a artista encontrou na variedade de cores da tinta à óleo e do pastel oleoso, os materiais para prosseguir no mesmo tema, mas agora com ênfase nas frutas e legumes no ápice de seu amadurecimento. Nessa série, a artista propõe um olhar super aproximado e recortado, enfatizando as texturas, cores e brilho das cascas e, também, a maciez e suculência do núcleo próximo às sementes, representadas como padronagens e estampas. O processo da artista não possui outra mediação que a experiência, é na relação direta com o seu objeto de pesquisa que as imagens pictóricas tomam forma e, exatamente por essa abordagem íntima, é que nos sentimos provocados pela doçura das imagens.

A transparência - ver além da superfície e ver imagens em interação - foi a característica visual mais importante para o desenvolvimento das duas pinturas monumentais apresentadas por Natasha, Jogo de Cintura e Flerte. Tendo o voil como suporte, a artista tem buscado resgatar a atmosfera de reuniões festivas de sua infância, sobrepostas a experiências da mesma natureza mais recentes, fazendo coincidir essas memórias numa mesma composição. São narrativas quase cinematográficas, lidas de cima para baixo, como num negativo fílmico, dada a extensão do tecido que faz com que essa história se desenrole quadro a quadro e em movimento. As lembranças da artista apresentam figuras com personalidade - são pequenos gestos, relações e alguns acessórios que vão moldando-as como personagens pertencentes a uma crônica, ou a uma página arrancada de um livro, pois só temos acesso a um fragmento daquela cena. Ainda que nosso conhecimento do enredo seja parcial, essas imagens de recordação estão constantemente animadas por qualquer sopro: da passagem dos corpos, do vento - criando mais uma imposição temporal na relação com os trabalhos.

O olho que vê de perto e de longe; o olho que vê em uma mínima distância focal, aproximando, detalhando; o olho que vê a superfície e vê através dela. Mas também o olho da imaginação, o olho da experiência e o olho da memória. As diferentes propostas para o olhar, em Olho Mágico, instigam o desejo de conhecer essas histórias por vários pontos de vista: o do espectador, o do artista e o das pinturas. A traição do real, a fidelidade das imagens. Ou vice-versa.

​Nós

2023

Galeria Ponto de Fuga

Curitiba, Brasil

CURADORIA

Isadora Mattiolli, Kamila Bach, Roger Silva e Lucí A Guerra

Vórtice - histórias contadas em um não-tempo

2022

EMBAP, UNESPAR

Curitiba, Brasil

CURADORIA

Turma de Curadoria de 2022, com coordenação de Isadora Mattiolli

Texto curatorial, por darta e talitha bodnar

"Vórtice" é o movimento forte, intenso e giratório em um eixo quando há diferença de pressão entre dois pontos, formando uma espécie de túnel. Na exposição, utilizamos dessa imagem-conceito para interpretar a passagem na malha temporal de 2020 e 2021, anos em que nós, estudantes, estávamos em distanciamento social, participando do Ensino Emergencial Remoto. A curadoria surge a partir do convite realizado aos artistas, egressos dos cursos de Bacharelados em Pintura, Gravura e Escultura, para participarem da mostra de resultados das pesquisas de seus Trabalhos de Conclusão de Curso. que foram realizados durante o tempo incerto, o não-tempo, da pan-demia.
Alguns dos trabalhos em exposição brincam com a trama temporal imaginária para explicar a finitude. Patricia Bertin nos conta sobre as pessoas que nos atravessam e marcam as nossas vidas, e descreve o luto de forma delicada, colocando a relação entre memória e ausência em sua série de gravuras. Já Didi Fiorucci e Ketty Keisy nos convidam a desvendar as histórias através de registros fotográficos, propondo um encontro entre passado e presente.
Outros artistas trabalham materializando as memórias de tempos passados: Thaise Severo traz os sussurros de um mundo fantástico no seu livro de artista: Letícia Mondim nos mostra sua proximidade e investigação dos pássaros na gravura e bordado; e Thaís Imada compartilha em uma série de pinturas sua longínqua história com a água. com um olhar singular e distante para seu aquário particular.
Por meio de pesquisas pictóricas, Julia Skonieczny compartilha conosco a maneira como vê a si mesma mediada por imagens: e Urani-da e Douglas Gonçalo, por sua vez, a maneira como enxergam o outro. ou seja, as pessoas que atravessam o nosso dia a dia. Depois de um longo processo com imagens da fotografia à pintura. FerDourado coloca nossa relação com o local em que vivemos em sua instalação.
Partindo da música. Babi Ribeiro materializa, pela xilogravura, as músicas de Raul Seixas que atravessam gerações: e por Nicole Boscardin, inspirada por uma música de Jay-Z, somos lembrados daquilo que não é falado, do que é invisível, e que devemos procurar olhar de outros ângulos.
Cacau, Luca Gaudendi e Anna Lucia Gonçalves também nos atentam para os segredos silenciosos que pairam no ar e que precisam se tornar públicos e presentes dentro da Universidade para além deste espaço expositivo, nas discussões sobre género, sexualidade e as desconstruções das amarras patriarcais. E, nesse mesmo sentido, Virgínia Gampski traz uma instalação têxtil que dessacraliza rituais religiosos, trazendo uma nova visão e proposta sobre o tema, nos aproximando do que é distante.
Por fim, Maria Mueller, Luiz Eduardo Hirata, Bah Carvalho e Priscilla Durigan nos apresentam, cada um a seu modo, como a arte é um ambiente experimental a ser desbravado. Pelos trabalhos aqui expos-tos, entendemos como a poética e a técnica são construídas e investi-gadas, e em como as regras da arte devem ser refutadas e ampliadas para que as produções ganhem forma e profundidade poética.
Essa exposição une. então, dois pontos destes artistas: a vida durante a pandemia, com sonhos e planejamentos que foram alterados por uma situação imprevisível, e o agora, com os resultados de suas pesquisas sendo mostrados numa exposição presencial. Assim, proporcionamos um novo vórtice temporal, um encontro com o presente. Um convite para ouvir todas essas histórias tecidas nos universos particulares de produção dos trabalhos. É um novo salto temporal para outros possibilidades, outros tempos, simbolizando um recomeço, um reencontro. 

CURADORIA

Jack Holmer & Sarah Marques

Texto curatorial, por Sarah Marques

Sociedade ‘do cansaço’, ‘do desempenho’, ‘de consumo’, ‘da informação’, ‘da pós-verdade’, ‘do tédio’, ‘’do esquecimento’, ‘do espetáculo’, ‘do capitalismo neoliberal’, ‘do controle’, são algumas das expressões utilizadas na tentativa de abordar características do mundo como conhecemos. Neste contexto, é inegável a centralidade das tecnologias de informação e comunicação na modulação da vida como um todo, operando, indissociavelmente, nas esferas macro e micropolítica. Os trabalhos aqui reunidos partem de investigações em torno da relação humano- máquina, provocando reflexões sobre as novas tecnologias na constituição de nossas experiências sensíveis. Reconhecendo as transformações cognitivas presentes no uso das tecnologias digitais, as obras tangenciam discussões em torno das novas formas de vigilância, o uso das redes sociais, os dispositivos de controle e disciplinamento dos corpos na contemporaneidade, o hiperestímulo das mídias, a hiper-reprodutibilidade, o capitalismo numérico, os novos regimes de visibilidade e manipulação da imagem-corpo e do corpo-carne, os dispositivos de captura e produção de imagens em sua potência poética, entre outros. A exposição é um convite à reflexão sobre o atual estado do mundo, convidando-nos a posicionarmo-nos criticamente em busca de linhas de fuga que desautomatizem nossa relação com os meios.

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